terça-feira, 1 de julho de 2008

Pedro, o Lenhador

Em algum lugar, há muitos e muitos anos, havia uma floresta na qual moravam Pedro o Lenhador com sua linda família. A casa que ele mesmo construíra era simples e aconchegante. Pedro mantinha rigoroso controle da floresta e cultivava mudas de carvalho em uma estufa de responsabilidade de sua esposa Helena e dos filhos Júnior e Deusa. Para cada árvore cortada outra era plantada no lugar.

Helena
Pedro, levanta que as cotovias
Já te chamam pro batente.
A cigarra lá fora anuncia
Um dia gostoso e quente.

Teu lanche já está na mesa,
Hoje está farto o rango.
Tem geléia de framboesa
E tem doce de morango.

Pedro
Helena não pise em meu calo
Que o dia inda está a raiar.
Pra que acordar o galo?
Me deixa em meu lugar.

E joga o travesseiro no rosto de Helena que o abraça sorrindo.
Dava gosto de ver aqueles dois sempre de bom astral e se amando. A casa era quente e aconchegante, principalmente pelo grande calor humano nela encerrado.

Pedro sai e agora Helena tem que acordar as crianças para irem à escola que fica em um vilarejo próximo.

Helena
Levanta, Júnior levado,
Anda, Deusa pimentinha,
Os dois estão atrasados,
Vão saindo da caminha!

Já espera vocês o mestre,
Vão à escola; vão sorrindo,
Sorvendo esse ar campestre,
Curtindo esse dia tão lindo.

Helena tinha muita dó das crianças. A floresta é fria no inverno e até mesmo em boa parte do verão. Mas a responsabilidade faz parte da formação e ela não quer que os dois tenham um viver duro como o do pai que tem uma vida confortável, mas à custa de muito esforço. Por sorte o homem é um touro.

Pedro
Trabalho! Trabalho! Trabalho com gosto!
Acordo contente, com o ego disposto.
Eu vivo a vida, pois a vida é uma festa,
Sou bravo guerreiro na minha floresta.

Dos braços tão fortes eu tiro o sustento,
Sou ágil e bravo. Eu corro com o vento,
A lida diária eu encaro sem medo,
O dia começa e começa bem cedo!

E o tempo passa... Pedro agora tem 30 anos e é uma máquina de trabalhar. É bonito e cativante. Helena também está uma belíssima mulher, companheira e amiga, sempre pronta a ajudar o marido e as (eternas) crianças a vencerem os obstáculos da vida.
Deusa termina o ensino médio um ano antes de Júnior, pois é um ano mais velha. Concluiu com louvor e recebeu o merecido diploma. Nesse dia Pedro não foi trabalhar. Fez questão de prestigiar a filha na festa de formatura. Ele só não sabia que iria conhecer o futuro genro...

Pedro
Eu sinto um prazer infindo
Por tanta graça alcançada.
Deus deve estar sorrindo
Com a alma engalanada.

Mostra-me um belo cenário,
Minha filha se formando,
O canto de mil canários,
Um Sol me iluminando.

Graças, Senhor, pela vida!
Estou tão feliz nesse dia.
Ver minha filha querida
Transbordando de alegria.

Apesar de humilde, o colégio era muito bom e Deusa tinha conquistado um importante marco. Falar em marco, esse era o nome de seu pretendente que ela timidamente chama para conhecer o pai.

Deusa
Marcos pede minha mão
Ao senhor, meu pai amado.
Abençoa essa união
E caminha ao nosso lado.

Tu és meu forte pilar,
De ferro e de concreto,
É tão fácil caminhar
Tendo você por perto.

Ao ver o sogro no alto de seus quase um metro e noventa Marco fica um pouco intimidado. Mas Pedro logo abre um sorriso e quebra o gelo, esticando a mão para o futuro genro.

Pedro
Tu foste por minha filha
O bom varão escolhido,
Então tua estrela brilha,
Serás outro filho querido.

Tens as chaves de minha casa,
Bem-vindo ao nosso rebanho.
São bem grandes nossas asas
E um outro amigo eu ganho.

Marco fica sem palavras. Não esperava que o pai de Deusa fosse tão legal, embora ela vivesse afirmando isso, ele emocionado, responde:

Marco
Eu sou honesto e honrado,
E Deusa é o meu galardão.
Eu vivo um sonho dourado,
Palpita o meu coração.

Serei mais um feliz membro
Dessa família singela;
E confesso, não me lembro
De outra data tão bela.

Pedro chama Helena e conta a novidade. A mãe fica encantada com o jovem. Vê-se que é educado e de bem. Abraça o casal fraternalmente e os convida a visitar a casa da família:

Helena
Nosso viver é honroso
E nosso lar é modesto
Mas é quente e generoso.
O resto é apenas resto.

Eu percebo em teu olhar
Que serás um bom marido,
Não costuma me enganar
Esse meu sexto sentido.

Pedro e Helena levam os pombinhos para almoçarem na casa deles.
Estão todos radiantes de felicidade. Naquele lugar é costume os jovens casarem-se em tenra idade.
Júnior é um belo rapaz, cheio de pretendentes, mas ainda não fez nenhuma escolha. Ele ficou contente por conhecer o cunhado que em futuro ainda um pouco distante irá desposar a sua irmã.
No ano seguinte é a formatura do jovem. Seu pai, entretanto ainda não irá conhecer a futura nora nesse dia.
O jovem está especialmente feliz, pois conseguiu uma bolsa de estudos em um excelente colégio na Capital. Pedro fica um pouco triste, pois sabe que o filho só estará em casa nos fins de semana, mas, por outro lado, o garoto terá o futuro praticamente garantido.

Pedro
Meu ser está pleno de felicidade,
Outro dia de júbilo me espera.
Não é um sonho. É pura realidade,
É uma doce e divinal quimera.

Um filho que vale um tesouro,
Ou melhor, vale muito mais ainda,
Porque nem a prata nem o ouro
Iriam pagar essa alegria infinda.

Júnior
Também te amo, meu pai
E quero que não te esqueças:
Pra onde o meu corpo vai
Estás em minha cabeça.

Pra nós o longe é perto
Porque somos taça e vinho.
Tu apontas o caminho certo
Eu não vivo sem teus carinhos.

E a vida continua na abençoada família. Deusa termina o ensino médio junto com o noivo e ele consegue um emprego onde recebe um salário não muito alto, mas o suficiente para começar a preparar o enxoval para o casamento.
Deusa torna-se extremamente prendada. Aprende pintura a óleo na oficina de artes do colégio as quais passa a vender por um bom preço.
Júnior termina o ensino médio e já está matriculado no curso de Arquitetura em uma faculdade federal, tendo em vista ter passado com louvor no vestibular.
O tempo passa e ele também conhece sua princesa com a qual se casa após formar-se.
Deusa casara-se um ano antes com Marco e vivem em uma casa próximo à de Pedro.
Deusa presenteia o pai com uma linda neta risonha e saudável que vem dar uma nova luz àquela casa já tão abençoada.
Júnior tem dois gêmeos também lindos. Ele trabalha na Capital, mas freqüenta assiduamente a casa de Pedro, a qual os garotos adoram. De uma família tão unida não se podia esperar outra coisa.

Narrador
Pedro, Deusa, Júnior e Helena,
Uma família pequena
Mas repleta de calor
Comungando imenso amor.

Agora ainda está mais bonita,
Tem gatinha com laço de fita,
Tem dois moleques levados
E gritos pra todos os lados.

É tão sublime o afeto
Que eles nutrem pelos netos
Que a palavra me embarga
Com tão poderosa carga

Que brotou dessa semente
E trouxe os pinguinhos de gente
Pra abrilhantar a família
Que agora ainda mais brilha.

O amor é o sentimento mais sublime legado por nosso Senhor eu sua Lei máxima. Sem amor nada vale à pena.

Narrador
Não vingam tâmaras em espinheiros,
Se tu queres amor tens que amar primeiro
Siga do bom Deus os Mandamentos
E tenha por recompensa bons momentos.

Aqui essa singela historia termina
E ela com sapiência nos ensina
Que a vida no mundo tem mais valor
Se sabemos dividir o nosso calor.



FIM


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5 comentários:

Délicatesse disse...

Muito lindoooooo....

Bjus
*.*

Unknown disse...

Josafá! amei a história de Pedro e Helena.Bem escrita e bem narrada.Com poesias embelezando e não cançando o leitor muito pelo contrário.Gostosa de lêr e Ufa!!!!Final deliz.Adoro histórias com final feliz.Parabéns!!!

Isaías Gresmés disse...

Esse conto é legal porque exalta os verdadeiros valores que são importantes em uma família: trabalho, carinho, respeito, casamento... Torna-se mais importante ainda porque o autor (Josafá) escreveu-o para um público jovem, ainda em fomação de personalidade. Excelente.

Unknown disse...

Josafá, que beleza de poesia, misturou prosa com versos.
Já sou seu fã, parabéns!!

Felipe Maia

Tribunal da Província de Trindade disse...

Muito bom, fiquei pasmo. Muito bem escrita a historinha e lúdica também. lembrou-me um tanto Gil Vicente...
Parabéns.