quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Nordestinidades

*
Lá no sertão brasileiro
Onde o chão é um braseiro
A seca cruel castiga
E ao sertanejo obriga
A deixar torrão natal

Na mala só a coragem
Eles trazem pra viagem
E a força do braço forte
Para vir tentar sua sorte
Nos anúncios de jornal.

Nessa desgraça infame
Pendurados nos andaimes
Eles trazem na memória
Muitos versos, muita história
E uma viola tangente

Que chora de madrugada
Com saudades da amada
Do alazão que foi
Junto com a vaca e o boi
Naquele Sol inclemente.

No último pau de arara
Saiu uma jóia rara
Daquele lugar infecundo
Pois lugar pior no mundo
Não tinha no meu Brasil.

Raimundo canta bonito
Esse meu povo aflito
Destilando em poesia
Com toda graça e magia
As nossas belezas mil.

Tem também Tom Cavalcanti
Esse pequeno gigante,
Codinome Cana Brava
Que na TV me encantava
Com seu jeito de falar.

Me lembro do Sai de Baixo
Que mostrava o escracho
Com a trupe da alegria:
Falabella e companhia
E o Porteiro Ribamar.

Ao Renato Aragão
O querido Trapalhão
Que mesmo estando sozinho
Merece nosso carinho
Eu quero homenagear.

Quando criança eu já ia
Ao cinema e não perdia
Os filmes desses palhaços.
Para os quatro um abraço
Eu quero agora mandar

Pois Mussum e Zacarias
Também eram da folia
Com seu humor pastelão
E Deus estendeu a mão
E eles estão num bom lugar.

Chico Anísio é humorista
Um valoroso artista
Que com a força da mente
Alegra a vida da gente
Pois é um mestre do humor.

Eu fico extasiado
Com os personagens criados
Com tamanha competência
E tanta graça é ciência
Também têm grande valor.

O Falcão do meu Nordeste
Com as curiosas vestes
Cobertas de badulaques
Nunca precisou de claque
Pra nos trazer alegria.

De piadas repentista
Esse querido artista
Tem a palavra viva
Que voa na sua saliva
Nos versos de sua autoria,

Com a nasalada voz
Também está entre nós
José, o Roque Santeiro
Que veio de Juazeiro
Para pegar a Porcina.

Ele muito nos faz falta
Com o Sinhozinho Malta
(Fantástico Lima Duarte)
Pois juntos mostravam arte
Com a viúva libertina

De Sobral é Belchior
E eu vou dizer melhor:
A sua voz nos encanta
E quando essa ave canta
Parece uma patativa...

Do Ceará esse filho
Veio trazer o seu brilho
Para esse Brasil inteiro
Pois do povo brasileiro
Ele é uma lenda viva.

Elba é um Banho de Cheiro
E se canta com esmero
Canora como sereia
O palco todo incendeia
Com seu lume divinal

E eu digo pra você
Ela faz um balancê
Que me lembra outra dama
Que também tem boa fama
E o nome dela é Gal.

O sobrenome é Costa
E essa mulher também gosta
De endoidar o seu oposto
Com um sorriso no rosto
E a voz de um rouxinol.

Um outro belo trabalho
Do querido Zé Ramalho
Com sua voz envolvente
Tomando conta da gente
É como um raio de Sol

Sua canção me acalma
E traz paz pra minha alma
Que se enleva em seu som
Que parece um sonho bom
Do qual não quero acordar.

Dorival e Nana Caimi,
Um outro casal sublime
Que com Danilo faz trio
Cantando a canção com brio
Nos dão asas pra voar.

Na batida do baião
O fole do Gonzagão
Só perde pra Januário
Que já se tornou lendário
Por esse imenso País.

Quem não sabe, digo agora
Bem depressa, sem demora,
Januário é sanfoneiro
Dos grandes foi o primeiro
E ele é pai do Luiz.

Vital Faria, Xangai
Elomar e a lista vai
Caminhando pro infinito
Pois todo esse povo bonito
Eu não vou poder cantar.

E tantos há pra citar
Que não dá pra mencionar
Nos versos dessa poesia
E mesmo sendo heresia
Agora vou ter que parar.

Um comentário:

Isaías Gresmés disse...

Amigo Josafá, justa homenagem aos grandes baluartes da nossa cultura genuinamente brasileira. Quem ler os seus versos perceberá que você é um grande conhecedor da cultura nordestina. Eu sou paulistano, mas pelo fato de conviver há muito tempo com nordestinos (minha 1º mulher é nordestina e a segunda também!), aprendi muito com eles e a admirar a cultura deles (nossa). Parabéns poeta.